Um dia ligaram no meu celular pedindo pra eu ficar em
jejum porque eu era a quarta candidata a um rim compatível comigo. Passou-se o
dia inteiro e não me ligaram mais. Fiquei chateada, mas eu sabia que não
demoraria muito pra me ligarem novamente.
Eu estava certa. Uns três meses depois, no dia 21/11/2010,
às 2h da manhã, eu estava desligando o computador quando o telefone tocou...
Era do Hospital do Rim mandando eu ir imediatamente pra lá porque tinha um rim
compatível comigo.
Depois que eu fiz todos os exames pré-operatório, já era de
manhã, quando vieram falar que eu seria transplantada no Hospital de
Transplantes Euryclides de Jesus Zerbini, uma ala no Hospital Brigadeiro,
porque no Hospital do Rim não teria vaga, pois fariam quatro transplantes antes
do meu. Porém, a equipe era do Hospital do Rim.
Fui recebida no Hospital de Transplantes pelo Dr. Diogo e
a enfermeira Fabiana. Conversaram comigo e logo fui preparada para a cirurgia.
Era umas 9h e pouco quando fui levada para o centro cirúrgico.
Acordei da anestesia de noite, já sem o tubo.
A minha recuperação foi bem difícil... Precisei fazer
hemodiálise até meus exames normalizarem. Tive problemas com a sonda vesical
(sonda que esvazia a bexiga)... Precisei trocar três vezes porque saiu do
lugar. (Que dor horrível!) Tive prisão de ventre e sentia muita dor por causa
disso. Por isso não conseguia comer direito e nem beber. Cheguei a fazer
tomografia com contraste pra ver se tinha algo errado no meu abdômen.. Para
isso tentaram fazer com que eu bebesse um litro de água com contraste (eu
chorava)... Parecia que eu ia explodir. Só consegui beber pouco mais de meio
litro. Também tive crises terríveis de enxaqueca. Me lembro da minha mãe
falando: “Pra você é sempre tão difícil.” Se referindo a recuperação do
transplante.
Aos poucos fui me recuperando... Meu rim funcionava bem.
Meus exames normalizaram e eu parei de fazer hemodiálise. Porém, estava
perdendo proteína na urina. Tentaram diminuir a perda com pulsoterapia (Um tipo
de terapia indicada para o tratamento de doenças crônicas e autoimune. Consiste
na administração de doses elevadas de corticosteroides por via endovenosa,
durante um curto período.), mas não adiantou. Então, os médicos decidiram me
transferir para o Hospital do Rim para que eu fizesse plasmaferese (processo de
remoção de elementos do plasma sanguíneo que possam ser responsáveis por
algumas doenças. A indicação mais comum é para remoção de anticorpos e
complexos autoimunes). Fui transferida no dia 10/12/2010, uma sexta-feira, fiz
a plasmaferese no dia 14/12. Tudo correu bem e fui liberada no dia 15/12 com a
consulta marcada no ambulatório pós transplante para o dia 17/12.
No dia da consulta eu estava no consultório com a médica que ficaria responsável pelo meu caso, quando a Dra.
Luciana Feltran (minha ex-pediatra) entrou... Ela ficou muito feliz em me ver
bem. Ela achava que eu tinha falecido. Ela conversou com a médica que estava me
atendendo e pediu para me colocar na agenda dela.
Eu fiquei uns quinze dias passando em consulta duas vezes
por semana (segunda-feira e quinta-feira), até ir espaçando... Uma vez na
semana, a cada quinze dias, uma vez por mês...
Não lembro exatamente quando comecei a fazer plasmaferese
regularmente. Lembro que fiz três vezes por semana e que teve um tempo em que eu
ia ao hospital quatro vezes na semana, por causa das consultas e das sessões de
plasmaferese. Conforme a perda de proteína foi caindo, as sessões de
plasmaferese foram diminuindo... Duas vezes por semana, uma vez por semana, a
cada quinze dias e foi suspensa.
Aconteceu uma coisa estranha, mas boa, depois que eu
transplantei, eu percebi que a minha fala estava um pouco melhor... Mais rápida
e clara.
Uma coisa que eu lembro com emoção... Uns dias antes de
ser chamada para o transplante, meu primo Felipe, que na época tinha uns 9
anos, durante uma novena na casa da minha vó Dolores, pediu pra eu ser chamada logo
para o transplante e ficar boa... Ele fez o pedido emocionado. Eu fiquei
surpresa e grata.