Eu rezava todos os dias para ser chamada logo para fazer o transplante.
No dia 20 de abril de 2001, uma
sexta-feira Santa, eu e minha família fomos na procissão das velas, que
terminava com a encenação da crucificação de Jesus Cristo. Lembro como se fosse
ontem. Minha tia Leca me mandou olhar pra cruz e pedir com muita fé! Foi o que
fiz! Eu olhei fixamente pra cruz, e pedi com muita fé para ser chamada logo
para fazer o transplante.
No dia seguinte, sábado de
aleluia, eu estava fazendo hemodiálise, dormindo, quando telefonaram para a
casinha me chamando para fazer o transplante.
Saí da hemo e fui direto para o
Hospital do Rim com minha mãe fazer os exames pré-operatórios. Lembro que
estava tão feliz, que fui meio que saltitando pela rua.
Fiz todos os exames
pré-operatórios no Hospital do Rim. Porém, o doador era do Instituto Dante
Pazzanese de Cardiologia, e eles não quiseram mandar os dois rins para o
Hospital do Rim, por isso, o paciente que foi chamado primeiro ficou no HR e eu
fui mandada para o Dante Pazzanese.
Quando chegamos fomos recebidas
por um médico, acho que era o chefe da nefrologia. Não lembro direito! Lembro
que era um senhor branco, gordo e estava fumando na sala.
Ele abriu a caixa para nos mostrar
o rim, fumando! (Um absurdo!)
Bem... Fui transplantada, e
ocorreu tudo bem durante a cirurgia, apesar de ter sido bem demorada. No
entanto, meu rim novo não funcionou direito, por isso, no dia seguinte
(domingo) tive que fazer hemodiálise.
Fui removida de ambulância até a
clínica de hemodiálise do Instituto Dante Pazzanese, porque não tinha
hemodiálise dentro do hospital. O médico abriu a clínica só pra eu poder
dialisar.
Foi muito ruim, eu estava cheia de
dor, e tive que ficar 3h30min naquela cadeira desconfortável, fazendo uma coisa
que pensei não ter que fazer nunca mais. (Eu tinha 13 anos, não sabia quase
nada sobre transplante e muito menos sobre a GESF, minha doença de base).
Foram feitos alguns exames para
tentar descobrir o porquê do meu rim novo não funcionar.
Precisei fazer uma Ultrassom com
Doppler para ver como estava o fluxo sanguíneo no enxerto (rim transplantado).
No Dante Pazzanese não tinha esse tipo de ultrassom. Fui removida para uma
clínica no Jabaquara. Meus pais tiveram que pagar por esse ultrassom.
O Dante Pazzanese estava atrasado
em se tratando de recursos na parte de nefrologia. Precisei fazer uma biópsia
do rim. E eles me levaram para o centro cirúrgico e aplicaram a raqui (aquela
anestesia que paralisa da cintura para baixo, geralmente usada para fazer
cesariana) e abriram quatro pontos da minha cirurgia. Eu não sei o que fizeram,
mas ficou uma ponta de um negócio azul pra fora de um dos pontos. O médico
disse que era a ponta de um dos pontos de dentro que são dados com uma linha
mais grossa, e que sumiria. (Aquilo dava uma agonia!) Demorou até a pele
cobrir. Mas, até hoje dá para sentir e, quando eu deito dá pra ver.
Eu fazia hemo três vezes por semana,
sessão de 3h30min, durante todo o tempo que fiquei internada. Foram quase 40
dias.
Eu não gostava da clínica de
hemodiálise do Dante. Era um lugar escuro, não davam nada pra comer, não tinha
ninguém na minha faixa de idade e os médicos não ficavam lá. Os pacientes
faziam o que queriam. Até bebidas alcoólicas levavam pra tomar na máquina. (Eu
achava um absurdo!)
No Dante não tinha nada para
distrair os pacientes, por isso, meu pai levou uma televisão, meu vídeo game,
gibis e livros para colorir.
Um dia, quando fui fazer hemo,
roubaram duas fitas de vídeo game. Episódio lamentável, que me deixou muito
triste, pois levaram minhas fitas preferidas!
Pra eu não ficar sozinha no
hospital e ela poder descansar minha mãe revezava com as minhas tias Bernardete
e Salete e também com a minha prima Thaís. Assim não ficava muito cansativo pra
ela.
Quando recebi alta, o médico disse
que eu tinha que continuar a fazer hemodialise até meu rim funcionar.
Sinceramente, eu não gostei do
Dante Pazzanese!