Era
meu último ano na escola, eu estava estudando para o Vestibulinho e fazendo um
curso de maquiagem com a minha mãe, no ICRIM.
Todo
transplantado precisa tomar imunossupressores para que o organismo não rejeite
o enxerto. No entanto, eles podem trazer outros problemas e dar alguns efeitos
colaterais, além da baixa imunidade que nos deixa suscetíveis a infecções. Eu
tive muita azia e refluxo. Refluxo é horrível! Eu me engasgava e a garganta
ardia. Precisa dormir com dois travesseiros e de lado. Também não podia comer
perto da hora de dormir e nem tomar leite á noite. O crescimento rápido de pelos
no corpo, também é algo que me incomodava muito! Eu precisava aparar sempre. No
rosto era o pior. E não podia raspar porque nasce mais grosso.
Por
causa da GESF, minha função renal já estava sendo prejudicada. Minha
proteinúria subia cada vez mais e me deixava sempre inchada. Eu não gostava nem
de ficar saindo de casa, por vergonha. Eu percebia que comentavam e faziam
piadinhas na escola e isso me chateava, mas fingia que não percebia e não dava
trela.
2005
foi um ano bem difícil! Passei por vários problemas... Quebrei o pé, tive Gota,
- que é causada pelo aumento de ácido úrico no sangue que formam pequenos
cristais e se depositam nas articulações - causando inflamação. É uma doença
reumatológica. Também tive um prolapso retal (quando há o extravasamento de
parte do intestino reto). E uma criptococose (pneumonia transmitida pelas fezes
secas dos pombos, quando inaladas).
Um
dia passei mal em casa e meus pais me levaram para o Hospital do Rim. A médica
diagnosticou como sinusite. Fui pra casa mas fazendo tratamento.
Um
ou dois dias depois, passei muito mal. Cheguei ao PA do Hospital do Rim com
Insuficiência Respiratória. Fui socorrida rapidamente por um enfermeiro. O
quadro de sinusite evoluiu pra pneumonia (a médica só acreditou que eu tinha
sido diagnosticada com sinusite depois que achou o RX). Fiquei uma semana na
UTI. Quando fui pro quarto, fui com máscara de oxigênio porque não conseguia
respirar direito. Uma semana depois, de madrugada, eu passei mal no quarto...
Comecei a sentir um incomodo no abdômen e falta de ar (mesmo usando máscara de oxigênio)
... chorava... Minha madrinha que foi passar a noite comigo, chamou a
enfermeira de plantão, mas a idiota disse que era frescura, pra eu ir dormir
que passava. (Nem avisou o médico de plantão). Eu não conseguia dormir por
causa do incomodo. De manhã, quando minha mãe chegou foi procurar um médico...
Achou o Drº Gustavo. Pegou ele pelo colarinho o encostou na parede e mandou ele
ir me ver imediatamente. Quando ele chegou no quarto eu já estava muito inchada
e quase não conseguia respirar. A partir daí, só lembro que estavam passando
uma sonda vesical em mim. Apaguei.
Me
sedaram e fizeram uma bronquioscopia (foi assim que descobriram que a pneumonia
era criptococose). Me entubaram, passaram sonda no meu nariz, um cateter no meu
pescoço, pra eu receber os antibióticos (tomei vários antibióticos fortes) e
outro na minha perna, pra eu fazer hemodiálise continua. Eu estava tão inchada,
que onde furavam escorria água, por isso fiz hemodiálise continua, 24 horas
direto. Também suspenderam os imunossupressores para o meu corpo reagir mais
rápido.
Meus
pais avisaram minha família de Cananéia... Minha tia Bel veio com a minha bisa
e as crianças, Isabela e Tiago. Minha tia Bernardete também veio com minha vó
Dolores (elas tinham se mudado pra lá em 2002).
Tive
uma parada cardíaca enquanto estava em coma. A Drª Paula, que estava cuidando
de mim desde que internei, disse pra minha mãe que iria começar a tirar a
sedação pra ver se eu reagiria, que já tinham feito tudo que podiam por mim. A
Drª Luciana e o Drº Paulo foram me ver e conversaram com a minha mãe. Disseram
pra ela ir pra casa e entregar nas mãos de Deus, porque não podiam fazer mais
nada, qualquer coisa que acontecesse eles telefonariam. Quando ela chegou no
hospital, no dia seguinte, a recepcionista mandou ela subir pra UTI que a
médica queria falar com ela. Minha mãe pensou que eu tinha morrido. Porém, eu
tinha acordado. Depois de uns quatro dias de coma. E fui logo arrancando o tubo
(eu sempre fazia isso).
A
hora que minha mãe entrou na UTI, eu estava sentada na cama e uma enfermeira
estava penteando meus cabelos. Que tinham ficado embolados por causa da touca.
Na época, eram cumpridos, lisos e metade pintados de vermelho. Lindo!
Algumas
horas depois que eu acordei, tive convulsões. Meus olhos ficaram virados para
um lado, depois viraram para o outro e depois para cima, eu não tinha controle.
Fiquei assim por muito tempo, do meio dia até de madrugada. Foi horrível! Eu
não conseguia dormir e ficava perguntando o que estava acontecendo. (Só soube
que era um tipo de convulsão tempos depois. Pra mim, só existia aquela
convulsão que a pessoa fica tremendo e perde o controle do corpo. Eu tinha tido
uma vez, no ano 2001, antes do transplante).
Quando
me levaram para o quarto, eu fui com máscara de oxigênio e tive que fazer
fisioterapia respiratória e motora. Umas duas semanas depois, tive alta. Porém,
fui pra casa com dificuldade pra andar, por isso, o médico me deu um atestado
de 15 dias para eu concluir minha recuperação em casa.
Enquanto
estive internada, recebi muitas visitas de parentes e amigos.
Os
médicos ficaram impressionados com a minha recuperação. A Drª Paula tinha
falado pra minha mãe que se eu sobrevivesse, iria direto para a hemodiálise
porque meu rim não funcionaria mais. Graças a Deus isso não aconteceu, (pelo
menos não de imediato) eu saí do Hospital com meu rim funcionando e com os
exames bons. Ela disse também que meus pulmões nunca mais seriam os mesmos.
Quando
os médicos que cuidaram de mim e os que me conheciam encontravam comigo, sempre
comentavam e me parabenizavam pela minha recuperação. Ficaram muito impressionados.
Depois
disso tudo que passei, o meu rendimento escolar caiu. Fiquei muito chateada
porque quando voltei para a escola, eu sentia muito sono por causa da
Carbamazepina (remédio anticonvulsivo) que passei a tomar para prevenir outras
crises. Eu dormia nas aulas.
Por
causa dos fortes antibióticos que tomei, algum tempo depois, meus cabelos
começaram a cair muito. (Eu chorava). Quase fiquei careca. A minha sorte é que
eu tinha muito cabelo (ainda tenho). Precisei cortar curtinho e passar remédio
no couro cabeludo.
Em
novembro meus exames haviam piorado, a perda de proteínas tinha aumentado muito
e não tinha mais jeito, eu voltaria para a hemodiálise.
Há
pouco tempo, soube que enquanto eu estava em coma, parentes de Cananéia,
realmente acreditaram que eu não sobreviveria e estavam preparando as coisas
pra levar meu corpo pra lá. Porém, muita gente se uniu em corrente de oração
pela minha recuperação. A FÉ FAZ MILAGRES!
Esse capítulo da minha vida
não foi nada fácil de contar. Lembrando de tudo isso que me aconteceu em 2005,
me veio um turbilhão de emoções, de sensações... Só eu sei... E tem detalhes
que não dá pra eu contar porque ficaria mais extenso.