(...)"Me fiz tão forte quanto o escuro do infinito
E tão frágil quanto o brilho da manhã que eu vi chegar" (...) Saga - Filipe Catto

terça-feira, 23 de outubro de 2018

O SEGUNDO TRANSPLANTE



Um dia ligaram no meu celular pedindo pra eu ficar em jejum porque eu era a quarta candidata a um rim compatível comigo. Passou-se o dia inteiro e não me ligaram mais. Fiquei chateada, mas eu sabia que não demoraria muito pra me ligarem novamente.
Eu estava certa. Uns três meses depois, no dia 21/11/2010, às 2h da manhã, eu estava desligando o computador quando o telefone tocou... Era do Hospital do Rim mandando eu ir imediatamente pra lá porque tinha um rim compatível comigo.

Depois que eu fiz todos os exames pré-operatório, já era de manhã, quando vieram falar que eu seria transplantada no Hospital de Transplantes Euryclides de Jesus Zerbini, uma ala no Hospital Brigadeiro, porque no Hospital do Rim não teria vaga, pois fariam quatro transplantes antes do meu. Porém, a equipe era do Hospital do Rim. 

Fui recebida no Hospital de Transplantes pelo Dr. Diogo e a enfermeira Fabiana. Conversaram comigo e logo fui preparada para a cirurgia. Era umas 9h e pouco quando fui levada para o centro cirúrgico.

Acordei da anestesia de noite, já sem o tubo. 
A minha recuperação foi bem difícil... Precisei fazer hemodiálise até meus exames normalizarem. Tive problemas com a sonda vesical (sonda que esvazia a bexiga)... Precisei trocar três vezes porque saiu do lugar. (Que dor horrível!) Tive prisão de ventre e sentia muita dor por causa disso. Por isso não conseguia comer direito e nem beber. Cheguei a fazer tomografia com contraste pra ver se tinha algo errado no meu abdômen.. Para isso tentaram fazer com que eu bebesse um litro de água com contraste (eu chorava)... Parecia que eu ia explodir. Só consegui beber pouco mais de meio litro. Também tive crises terríveis de enxaqueca. Me lembro da minha mãe falando: “Pra você é sempre tão difícil.” Se referindo a recuperação do transplante.

Aos poucos fui me recuperando... Meu rim funcionava bem. Meus exames normalizaram e eu parei de fazer hemodiálise. Porém, estava perdendo proteína na urina. Tentaram diminuir a perda com pulsoterapia (Um tipo de terapia indicada para o tratamento de doenças crônicas e autoimune. Consiste na administração de doses elevadas de corticosteroides por via endovenosa, durante um curto período.), mas não adiantou. Então, os médicos decidiram me transferir para o Hospital do Rim para que eu fizesse plasmaferese (processo de remoção de elementos do plasma sanguíneo que possam ser responsáveis por algumas doenças. A indicação mais comum é para remoção de anticorpos e complexos autoimunes). Fui transferida no dia 10/12/2010, uma sexta-feira, fiz a plasmaferese no dia 14/12. Tudo correu bem e fui liberada no dia 15/12 com a consulta marcada no ambulatório pós transplante para o dia 17/12.

No dia da consulta eu estava no consultório com a médica que ficaria responsável pelo meu caso, quando a Dra. Luciana Feltran (minha ex-pediatra) entrou... Ela ficou muito feliz em me ver bem. Ela achava que eu tinha falecido. Ela conversou com a médica que estava me atendendo e pediu para me colocar na agenda dela.

Eu fiquei uns quinze dias passando em consulta duas vezes por semana (segunda-feira e quinta-feira), até ir espaçando... Uma vez na semana, a cada quinze dias, uma vez por mês...

Não lembro exatamente quando comecei a fazer plasmaferese regularmente. Lembro que fiz três vezes por semana e que teve um tempo em que eu ia ao hospital quatro vezes na semana, por causa das consultas e das sessões de plasmaferese. Conforme a perda de proteína foi caindo, as sessões de plasmaferese foram diminuindo... Duas vezes por semana, uma vez por semana, a cada quinze dias e foi suspensa.

Aconteceu uma coisa estranha, mas boa, depois que eu transplantei, eu percebi que a minha fala estava um pouco melhor... Mais rápida e clara.

Uma coisa que eu lembro com emoção... Uns dias antes de ser chamada para o transplante, meu primo Felipe, que na época tinha uns 9 anos, durante uma novena na casa da minha vó Dolores, pediu pra eu ser chamada logo para o transplante e ficar boa... Ele fez o pedido emocionado. Eu fiquei surpresa e grata.