(...)"Me fiz tão forte quanto o escuro do infinito
E tão frágil quanto o brilho da manhã que eu vi chegar" (...) Saga - Filipe Catto

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

REABILITAÇÃO

Quando eu recebi alta do Hospital São Paulo, já saí com encaminhamento para o LESF (Lar Escola São Francisco). Lá eu passei com uma fisiatra, Dra Milena, e fui encaminhada para fazer fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional (T.O) e terapia em grupo. Tive que aguardar vaga pra tudo. A fisioterapia foi a mais demorada. Mais ou menos um ano.

Na Nefros, tinha uma senhora que fazia hemodiálise no mesmo horário que eu, a dona Samira, que, através de contatos, conseguiu uma vaga pra eu fazer fisioterapia e terapia ocupacional na Santa Casa, enquanto eu aguardava a chamada do LESF.

Na Santa Casa, eu fazia T.O pra treinar a coordenação motora das mãos. Na fisioterapia eu levava choques nos joelhos por causa de dores. Até fiz alguns exercícios pra tentar ganhar força, mas as dores não me deixavam progredir.

Quando me chamaram no LESF, tive que sair da Santa Casa. No LESF a T.O era pra ajudar a me adaptar à minha nova condição. Reaprendi a arrumar a cama, lavar louça... Na fono eu fazia exercícios para fortalecer a parte respiratória, a língua, as bochechas, os lábios, a parte da mastigação. Também treinei a intensidade da voz e a articulação das palavras e reaprendi a falar outras... A terapia em grupo era pra falar/dividir minhas angústias, medos, tirar dúvidas... Fiz também oficina de bijuterias para distrair e ajudar na coordenação motora (foi uma atividade que eu escolhi fazer. Eu adorava. Fazia em casa também). Na fisioterapia eu fiz exercícios de fortalecimento muscular, alongamento e equilíbrio.

Era tão difícil e cansativo fazer hemodiálise três vezes na semana e reabilitação duas vezes na semana. Sem contar que o LESF ficava em Moema, longe da minha casa. Para os meus pais também era muito difícil e cansativo. Mais para o meu pai, que me levava. Na época ele estava afastado do serviço por causa de uma cirurgia de hérnia de disco.

No LESF eu ganhei uma bengala de quatro pés para me apoiar e, assim tentar sair da cadeira de rodas. Também ganhei uma cadeira de rodas (até então eu usava uma emprestada pela igreja, que minha irmã conseguiu pra mim). Eu não conseguia andar com a bengala, porque eu não conseguia manter o equilíbrio e também não tinha paciência pra andar com aquilo (tem jeito certo de trocar o passo). Também treinei com muletas canadense. Sem progresso.

Muitas vezes pensei que fosse desmoronar. Era muito difícil eu aceitar e me adaptar à minha nova vida. É muito ruim ter que depender das outras pessoas pra fazer as coisas por ou para mim e para me levar aos lugares. Eu não podia mais ir em certos lugares porque era difícil pra minha mãe ou meu pai me levarem. Eu, praticamente, não me divertia, não saía de casa.

Aos poucos eu fui tendo alta das terapias, apesar de não estar recuperada totalmente. Disseram-me que já haviam feito tudo que podiam por mim. Eu estava mesmo muito cansada de tudo, mas sabia que precisa continuar a reabilitação, Eu tinha tido alguns progressos, mas eu sabia que não estava pronta para receber alta, sem nem ter um apoio pós reabilitação, pelo menos para manter o pouco que eu tinha ganho (só recebi orientações para continuar alguns exercícios em casa). No entanto, continuei a passar em consultas com a Dra Milena, fisiatra, pois estava aguardando a chegada de um "brace" articulado com regulagem para o joelho que, segundo ela, iria segurar a hiperextensão. Esse "brace"foi uma novela... Eu demorei para encontrar. E quando encontrei foi na internet, custava muito caro e tinha que importar do Canadá. Minha psicóloga da Nefros, a Rita, fez umas três rifas para me ajudar a conseguir o dinheiro e comprar. Demorou uns quatro meses pra chegar. Daí voltei pra fisioterapia pra treinar. Porém, não deu certo. Não segurava o meu joelho e machucava.

Não fiquei acomodada depois que tive alta do LESF. Uma auxiliar de enfermagem da Nefros, a Betinha, me falou do IMREA (Instituto de Medicina e Reabilitação) - Rede de Reabilitação Lucy Montoro - do HC, porque eu tinha comentado com ela que estava procurando um lugar pra fazer hidroterapia. Eu tinha pesquisado, e vi que a hidroterapia poderia me ajudar muito. Liguei e marquei uma avaliação na Unidade da Lapa. A fisiatra me encaminhou para fazer hidroterapia, condicionamento físico e oficinas de plantas medicinais e jardinagem (que não consegui fazer por muito tempo porque era depois da hemo, e eu ficava muito cansada e muitas vezes saía com dor de cabeça) e bijuterias, que também fiz por pouco tempo. 

Antes de conseguir a vaga no IMREA, falei com a assistente social da Nefros, e ela conseguiu uma avaliação pra mim na AACD. Mas eu não fui, porque a chefe de lá era a Dra Milena, e eu já tinha falado com ela sobre hidroterapia. E ela havia me dito que eu não era peixe pra andar na água, que eu tinha que andar no chão (não gostei. Ela foi grossa e escrota). Isso foi uma rasteira pra mim. Mas eu não desisti. Tinha lido muito sobre hidroterapia, e sabia que iria me ajudar.
Para o condicionamento físico me chamaram rápido no IMREA. Ganhei força, e isso me trouxe algumas melhoras no dia a dia. Ficar em pé por mais tempo, por exemplo. Pena que, infelizmente, eu não conseguia fazer todas as sessões por causa da minha pressão arterial que subia. Parei com o condicionamento físico por causa de uma reforma que começou no local. Prevista para terminar em seis meses, durou mais de três anos, e ainda tem coisa pra fazer.

Pra hidroterapia demorou muito pra me chamarem, por volta de um ano e meio. Quando comecei, logo percebi a melhora na minha respiração. Eu adorava a hidro. Era muito relaxante.

Eu fiz RPG (Reeducação Postural Global) em casa com a Sueli, uma fisioterapeuta ótima, que me ajudou bastante. Algumas melhoras que só eu e ela percebemos, mas que pra mim eram grandes vitórias.

Eu não sei em que momento voltei a fazer serviços de casa, só sei que sabia que não podia ficar esperando eu me recuperar totalmente para voltar a fazer uma das coisas que eu mais gosto, que é cozinhar.

Eu ainda tenho fé que posso me recuperar, apesar de ser muito difícil, acredito que vou conseguir. Tenho muitos planos pra realizar e preciso correr atrás com as minhas próprias pernas.



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