(...)"Me fiz tão forte quanto o escuro do infinito
E tão frágil quanto o brilho da manhã que eu vi chegar" (...) Saga - Filipe Catto

sábado, 1 de agosto de 2015

O ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL ISQUÊMICO (AVCI)

No dia 28 de junho de 2007, uma quinta feira, fomos atrás de alguém no Hospital do Rim para eu tentar fazer uma tomografia e descobrir porque eu estava tendo dores de cabeça frequentes. Encontramos o Dr. Gustavo, (o médico que me socorreu em 2005) ele fez o pedido da tomografia e eu fiz na hora. Porém, não apareceu nada no exame.
De vez em quando, o Dr. Gustavo dava plantão na Nefros. Foi engraçado quando o vi lá pela primeira vez,  em 2006. Ele contou como minha mãe o pegou pelo colarinho e o jogou na parede mandando ele ir me socorrer. Disse que estava feliz em me ver bem. Um tempo depois ele sumiu. Soube que tinha sido encontrado morto no apartamento dele. Foi morte súbita. Fiquei chocada.

No dia 29 de junho de 2007, (sexta-feira) fui fazer hemo com muita dor de cabeça e dor abdominal, lá me deram remédio duas vezes, Buscopan Composto e Dipirona na veia, o que fez minha pressão cair. Passei muito mal e dormi. Quando eu acordei, para ir embora, minha perna estava esquisita, parecia dormente. Não conseguia levantá-la direito e saí meio que puxando. No dia seguinte (sábado) eu tinha uma festa no ICRIM (Instituto de Apoio à Criança e ao Adolescente com Doença Renal) na parte da manhã. Me arrumei e saí com a minha irmã. Não consegui chegar no ponto do ônibus. Minha perna estava muito ruim. Voltamos pra casa e pedi pra minha mãe me levar ao médico. Nós já suspeitávamos de derrame.
A equipe médica que me atendeu no HSP fez uns testes comigo, e disse que eu não tinha nada, que eu estava andando daquele jeito por causa dos meus joelhos valgos. Mesmo eu e minha mãe dizendo que eu tinha os joelhos valgos há anos e nunca tive problemas pra andar, a chefe da equipe, Dra. Fernanda, teimou. Além da dificuldade pra andar, eu já estava falando arrastado, com dificuldade. E, eu estava me sentindo estranha, abobada. No entanto, não deram importância. A Dra. Fernanda, falou que por causa da greve do hospital ela não iria pedir tomografia porque eles estavam priorizando os casos mais graves. (Fiquei com muita raiva dela.) Nós ainda perguntamos se poderia ser derrame, já tínhamos lido sobre o assunto. Mas a Dra. Fernanda disse que não. A partir daí minha memória ficou bagunçada. Tem muita coisa que não lembro. Na verdade, quase nada. Vou contar o que minha mãe e minha irmã me contaram.

No domingo meus pais me levaram na Santa Casa. Depois de horas de espera, o médico disse que eu estava sofrendo os efeitos da Carbamazepina, o anticonvulsivo que eu tomava desde 2005, e suspendeu.   
Na segunda-feira, quando eu estava fazendo hemodiálise passei mal e convulsionei. Me amarraram na cadeira pra eu não me machucar enquanto me debatia, era uma crise convulsiva generalizada. Parei de me debater e fiquei “fora do ar”, era outro tipo de crise convulsiva. Fiquei em crise por quase uma semana... Com os olhos abertos, olhar perdido, olhando para o nada... Parecia que eu não estava lá... Ausência de consciência. A médica de plantão na Nefros tinha contatos no hospital São Luiz Gonzaga e conseguiu uma vaga pra eu ser transferida pra lá.

Quando eu voltei a mim estava confusa, sem forças, quase não conseguia me mexer, não podia andar, quase não conseguia falar, mal conseguia comer... Fiquei desesperada, eu me lembro das lágrimas escorrendo dos meus olhos, porém, me lembro também de sorrir.
Eu tinha tido um Acidente Vascular Cerebral Isquêmico (AVCI), o popular derrame. 
Teve um dia em que as minhas primas Thaís e Thathí foram me visitar... A Thathí segurou minha mão e chorou de soluçar, falando que eu iria ficar boa (ela sempre teve jeito de durona, mas é uma manteiga derretida). Eu tentava falar pra ela não chorar, mas não conseguia. Era desesperador.

Quando me deram alta, acho que uns três dias depois que eu recobrei a consciência, eu não tinha melhorado. Depois de uns dois dias em casa, eu travei tomando café (pelo que eu li, provavelmente foi outra convulsão). Minha mãe me levou para o HSP. Fui internada.
Fiquei uns dias no Pronto Socorro aguardando vaga na enfermaria da neurologia. No tempo em que fiquei internada fiz vários exames e fui examinada e estudada por vários médicos e estudantes. Disseram que meu caso não era comum... Um AVCI aos 19 anos sem causa aparente, fator de risco ou histórico familiar. Porém, nada descobriram. Ficaram apenas nas suposições.  
Pesquisando na internet, descobri que meu caso não era tão raro quanto disseram e, que existem casos inacreditáveis e muito tristes... Bebês podem ter AVC na barriga da mãe, na hora do parto...

Na primeira visita do chefe da neurologia, o Dr. Henrique, ao meu leito, a Dra. Fernanda estava junto. Ela ficou toda sem graça. Depois que todos saíram do quarto ela veio pedir desculpas. Desculpamos. Não tinha mais o que fazer... Mas confesso, por muitas vezes, tive vontade de xingá-la e processá-la por negligência. 

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